Já foi o tempo em que a Câmara Municipal de Ferraz de Vasconcelos era um espaço de grandes debates, entre vereadores ligados à prefeitura (situação) e vereadores contrários aos chefes do Executivo (oposição). Isso era incentivo para a melhoria da qualidade das proposituras em favor dos munícipes, no sentido de viabilizar obras e ações positivas, eficazes, nas áreas da Saúde, da Segurança, da Habitação, da Educação, da Cultura, do Lazer, e por aí vai . . .

De janeiro deste ano até agora – após o início da administração da prefeita Priscila Gambale, ancorada ao irmão deputado Rodrigo Gambale –, assistimos na cidade à ineficácia de todos os vereadores, que rezam a mesma cartilha dos irmãos. A Câmara Municipal virou uma espécie de Puxadinho dos Gambale. Em outras palavras, um Cartório Homologador da prefeitura.

Importante destacar que nas relações entre os poderes constituídos num regime democrático, o que se espera de um parlamentar, seja ele vereador, deputado ou senador, é o papel de fiscalizar os atos de prefeitos, governadores e presidentes (Legislativo de olho no Executivo). E sempre no sentido de garantir o uso devido dos recursos públicos, de denunciar eventuais erros administrativos, de propor investigações em comissões internas para apurar possíveis atitudes criminosas, corruptas.

Um dos maiores filósofos e pensadores do mundo, o francês Montesquieu tinha como ideia central conferir as leis não como fruto do arbítrio de quem as escreve, mas da decorrência da realidade social e histórica de um povo, mantendo relações íntimas com essa realidade. Montesquieu era completamente contra o poder despótico (ou seja, o poder absoluto concentrado nas mãos de um tirano). Seu modelo defendia o respeito à liberdade e à vida, além dos direitos políticos dos cidadãos.

O nível de produção do parlamento ferrazense (leia-se o conjunto de vereadores), incluindo aí os suplentes que assumiram cadeiras, é péssimo, está muito distante das ideias de Montesquieu escritas no século 18. Não existe a prática constante de vereadores apresentarem requerimentos questionando decisões da prefeita e de seus secretários, que muitas vezes causam danos à população. Não há contraponto, parecem acomodados como “vaquinhas de presépio” (sem aqui querer desmerecer os bovinos). E se avaliarmos então o volume ou a importância dos projetos de lei propostos por esses atuais parlamentares na Casa, aí a coisa fica ainda pior.

Além de Cartório Homologador dos Gambale, a rotina constante de trabalho dos vereadores se concentra em apresentar os seguintes itens (inúteis, em sua maioria): títulos de cidadão ferrazense; alterações de nomes de ruas e escolas; moções de aplauso a “personalidades”; trocas de lâmpadas e operações tapa-buracos (ambas obrigações dos serviços de zeladoria das prefeituras); e outras inutilidades aos montes. Raríssimas são as propostas que efetivamente causam mudanças significativas.

E quanto tiveram a oportunidade de questionar as intenções da prefeita Gambale, a Câmara Municipal se curvou e apenas com um voto contrário aprovou o empréstimo absurdo junto à Caixa Econômica Federal no valor de R$ 21,3 milhões – o que deve comprometer as finanças da prefeitura nos próximos anos, nas próximas gestões. 

Outro assunto preocupante: nas eleições passadas, nove dos atuais 17 vereadores ferrazenses eram politicamente ligados ao candidato derrotado por Priscila, Dr. Rafú Júnior. Ocorre que um deles virou secretário municipal e os demais oito (que poderiam se posicionar como oposição) debandaram-se para o lado dos Gambale na Câmara. Em entrevista ao programa Bom Dia Cenário, mediado pelo jornalista Jairzinho Ambrósio da TV Cenário, na última segunda-feira, dia 13, Dr. Rafú discorreu sobre a importância do trabalho conjunto com esses antigos parceiros no Projeto Mutirão da Saúde organizado por ele, voltado principalmente às mulheres. Mutirão inclusive que ajudou a agregar votos a esses mesmos vereadores. E agora, para tristeza do próprio Rafú, nenhum deles é capaz de voltar a apoiar novamente o projeto de Saúde para o bem-estar dos moradores. Detalhe: Rafú não está pedindo dinheiro pra ninguém, simplesmente apoio para continuar sua missão em ajudar as pessoas.

No mesmo dia do programa da TV Cenário, em enquete a respeito do entrevistado, a maioria dos votantes escolheu como resposta a opção de que todos os vereadores estão amarrados com a prefeita Gambale. Ao menos oito deles, então, viraram as costas ao ex-parceiro nas eleições, o Dr. Rafú. O que será que está por trás disso? Incapacidade de se posicionar ou política do toma lá dá cá com a nova administração?

E esse jogo político de negar o passado, de não apoiar projetos importantes, não importam quem sejam os protagonistas, é lamentável, faz a nossa cidade pequena, provinciana, atrasada.

Alô, vereadores de Ferraz! Tá na hora de ressignificar, de sair das amarras da prefeita e do deputado Gambale, de produzir em favor do povo, não em benefício de seus próprios interesses.

Estamos de olho!

Augusto do Jornal, diretor nacional de Finanças da CGTB e 2º suplente de vereador pelo PSB em Ferraz de Vasconcelos

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