Não é implicância de minha parte. Baseado em fatos, assisto a mais uma vez o presidente Jair Bolsonaro ser alvo de polêmica por conta de sua ausência da COP26 (Conferência da ONU sobre mudanças climáticas), em Glasgow, na Escócia, que acontece de 31 de outubro a 12 de novembro. Fica a impressão de que o mundo todo ri do patético estadista brasileiro, que não teve a coragem de participar do evento mundial que debate os problemas relacionados ao clima. Sobraram para o ministro do Meio Ambiente, Joaquim Leite, e outros ministros e parlamentares (numa delegação de aproximadamente 100 pessoas), a participação na Conferência. Apesar da quantidade expressiva de membros do governo, a segunda maior em Glasgow, o Brasil ficará limitado na COP26 a um vídeo com o blá-blá-blá de Bolsonaro que será exibido apenas no pavilhão sobre o nosso país, longe dos centros de decisão.  

O presidente brasileiro não pode se furtar em marcar presença nesse tipo de discussão que envolve os mais importantes estadistas do mundo. Afinal de contas, nós possuímos a maior parte da maior floresta do mundo, a Amazônia, além de deter a maior quantidade de água doce no planeta (12% do total).

Bolsonaro trocou a agenda da COP26 para ir à Itália, num passeio com dinheiro do povo, onde recebeu o título de cidadão honorário de Anguillara Veneta, cidade em que nasceu o seu avô, na Província de Pádua, cujo prefeito faz parte da extrema-direita – a mesma tendência política do nosso presidente. A homenagem gerou protestos de italianos, brasileiros e também da Diocese de Pádua. Durante o city tour, o clima esquentou contra o Bozo e, como reação, seguranças oficiais do governo brasileiro agrediram jornalistas, o que é profundamente lamentável.

E pra que serve a COP26? Lá, vão tratar dos desdobramentos do Acordo de Paris, adotado em 2015 por 147 países signatários que participaram da Convenção Quadro das Nações Unidas sobre o clima. Por esse acordo, foram decididas quais medidas de redução de dióxido de carbono deveriam ser iniciadas a partir de 2020. O foco é manter o aumento da temperatura mundial abaixo de 2º C, limitado a 1,5º C. Isso evita os eventos extremos no clima de todos os continentes, com efeitos negativos na Saúde, na Economia e nos Ecossistemas, principalmente na população de países mais pobres.

Longe do debate em Glasgow como estadista, o Brasil de Bolsonaro novamente é ridicularizado em todo o mundo. E isso não vem de hoje, pois há inúmeros eventos com a marca bolsonarista que ajudam a nos envergonhar, como na reunião da ONU onde o presidente disse um conjunto de mentiras. E o que é pior: nossa agenda interna climática contribui para as críticas internacionais. Entre 2018 e 2021, aumentaram significativamente: o desmatamento, os incêndios florestais, com perda de 30% só no Pantanal. Tudo isso vai na contramão do desenvolvimento sustentável. Daí, a covardia do presidente em colocar-se no centro das discussões sobre o meio ambiente, pois não tem conteúdo no que fala e, com o perfil de moleque, não quer ser cobrado.

Existem no mundo nações mais poluidoras. Porém, o que nos falta atualmente são boas políticas públicas para fiscalização em respeito à Constituição e à Política Nacional de Meio Ambiente. Somam-se a isso, há vários exemplos de erros na gestão do governo federal que comprometem nossa imagem internacional, entre os quais, o leilão de uma dezena de blocos de exploração de petróleo nas proximidades do arquipélago de Fernando de Noronha. Outro episódio lamentável, cujo protagonista foi o ex-ministro do Meio Ambiente Ricardo Salles: em plena pandemia, no ano de 2020, nosso país elevou para 9% a emissão de gases, contra 7% no resto do mundo.

Na Amazônia também há números negativos para complicar a nossa posição em relação a outros países. Entre 1985 e 2020, houve perda de 74,6 milhões de hectares da vegetação natural de nossa principal floresta – o que equivale ao tamanho do Chile. Isso interfere diretamente no aumento da temperatura mundial, alvo central dos debates da COP26.

Sem Bolsonaro na Escócia, sobraram as críticas. Para Peter Wilson, embaixador do Reino Unido no Brasil, “a ausência dele pode enfraquecer a voz do Brasil, que é um dos países mais importantes para as negociações climáticas. O Brasil tem um protagonismo no cenário ambiental há 29 anos, desde a Conferência Rio-92″. Já o deputado federal Rodrigo Agostinho (PSB/SP) acredita que “é muito ruim a ausência do presidente. O Brasil é para ser o grande líder nesse processo, o Brasil sempre liderou as negociações internacionais de clima. O Brasil deveria ser o grande protagonista, é para ser o país que vai receber o maior número de investimentos”. Agostinho é líder da Frente Parlamentar Ambientalista no Congresso Nacional e está presente na Escócia para participar da COP26.

O que nos resta com esse presidente fujão, que se acovarda do debate, seja sobre o clima ou qualquer outro tema, é continuar de olho no governo federal com a esperança de eleger um novo presidente em 2022.

FORA BOLSONARO!

Augusto do Jornal, diretor da Executiva Nacional da CTB (Central dos Trabalhadores e das Trabalhadoras do Brasil) e 2º suplente de vereador pelo PSB em Ferraz de Vasconcelos