A guerra na Ucrânia, iniciada na última quinta-feira (24), entrou em seu oitavo dia nesta quinta-feira (03). A invasão realizada pela Rússia é o maior ataque de um país contra outro desde a Segunda Guerra Mundial, há 80 anos.

Soldados ucranianos em posição no centro de Kiev, na Ucrânia — Foto: REUTERS/Gleb Garanich.
Soldados ucranianos em posição no centro de Kiev — Foto: REUTERS/Gleb Garanich.

O ataque inicial

  • Vladimir Putin autorizou o início invasão às 5h do dia 24 de fevereiro, zero hora de Brasília.
  • O ataque foi simultâneo por terra, ar e mar e contra diferentes cidades.
  • Ao longo do primeiro dia, enquanto bases militares eram destruídas, tropas avançavam no território ucraniano por praticamente todos os lados.
  • Pelo norte da Ucrânia, militares russos rapidamente tomaram Chernobyl.
  • Na manhã do segundo dia, em paralelo a mais bombardeios, o efetivo russo começou a se aproximar da capital, Kiev.
  • Na noite do segundo dia, segundo o prefeito de Kiev, Vitali Klitschko, ao menos cinco explosões foram ouvidas na capital ucraniana.

A defesa inicial

  • O presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, afirma ser o alvo número um da ofensiva russa e diz que nem sua família está a salvo. Mas uma agência russa informou que ele está disposto a negociar.
  • A TV ucraniana chegou a ensinar como fazer coquetéis-molotov para que civis revidassem a invasão por terra.
  • O governo ucraniano alegou ter derrubado algumas aeronaves de Moscou.
Danos causados em assentamentos civis após ataques russos em Kharkiv, na Ucrânia — Foto: Serviço de Emergência do Estado da Ucrânia/Agência Anadolu via Getty Images.

A reação ucraniana

O presidente Volodymyr Zelensky ordenou na tarde do primeiro dia da invasão uma mobilização geral “para garantir a defesa do Estado”.

Zelensky pediu aos ucranianos que defendessem seu país e disse que armas seriam dadas a qualquer um preparado para lutar.

“O que ouvimos hoje não são apenas explosões de mísseis, combates e o barulho das aeronaves. Este é o som de uma nova Cortina de Ferro, que desceu e está fechando a Rússia do mundo civilizado”, disse Zelensky.

Putin, que negou durante meses que planejava uma invasão, chamou a Ucrânia de uma construção artificial esculpida da Rússia por seus inimigos – uma caracterização que os ucranianos vêem como uma tentativa de apagar sua história de mais de 1.000 anos.

Enquanto no leste da Ucrânia muitos falam russo como língua nativa, praticamente todos se identificam como ucranianos.

Houve também divergências na Rússia. A polícia deteve mais de 1.600 pessoas participando de comícios antiguerra em 53 cidades e as autoridades ameaçaram bloquear relatos da mídia portando “informações falsas”.

Homem limpa destroços em prédio residencial atingido por bombardeio russo — Foto: Daniel LEAL/AFP.

A guerra

A Rússia invadiu a Ucrânia em 24 de fevereiro, em meio a uma possível adesão da Ucrânia à Organização do Tratado do Atântico Norte (Otan), aliança militar liderada pelos Estados Unidos. Moscou vê essa adesão uma ameaça à sua segurança.

Porém, em seu discurso, Putin disse ter ordenado “uma operação militar especial” para proteger as pessoas, incluindo cidadãos russos, sujeitas a “genocídio” na Ucrânia — uma acusação que o Ocidente chama de propaganda infundada.

“E por isso lutaremos pela desmilitarização e desnazificação da Ucrânia”, disse Putin.

Putin, depois de se referir em seu discurso ao poderoso arsenal nuclear russo, fez ameaças: “Quem tentar nos impedir deve saber que a resposta da Rússia será imediata. E isso vai levá-lo a tais consequências que você nunca encontrou em sua história.”

Soldados russos sitiaram Kiev e tentam tomar o poder. Além de instalações militares, os bombardeiros feitos pela Rússia já atingiram hospitais, orfanatos, escolas, creches e prédios residenciais. A segunda maior cidade da Ucrânia, Kharkiv, que fica próximo à fronteira com a Rússia, também está sendo atingida.

A cidade de Chernihiv também está sendo bombardeada pelos russos, segundo balanço divulgado na tarde desta quinta-feira (03), subiu para 33 o número de mortos após os ataques bélicos. Contudo, o número de vítimas pode ser ainda maior, pois, os resgates foram suspensos após registro de novas explosões.

Além de Kiev, capital ucraniana, Chemihiv, Ivankiv, Zhytomyr, Lviv, Chemowitz, Kherson, Odessa, Mykolaiv, Kamianske, Dnipro, Kharkiv, Mariupol, Belgorod, Boryspil e Chernobyl estão sob a mira dos russos.

Refugiados da Ucrânia chegam à cidade fronteiriça húngara de Zahony, utilizando um trem — Foto: Christopher Furlong/Getty Images.

Invasão Russa é condenada na Assembleia-Geral da ONU

A Assembleia-Geral das Nações Unidas (ONU) aprovou, nesta quarta-feira (2), uma resolução que condena a invasão russa à Ucrânia.

Convocada pelo Conselho de Segurança, a reunião foi feita de forma emergencial para discutir a situação no Leste Europeu. Para a aprovação, foi necessário maioria de 2/3 dos votantes.

O Brasil foi um dos 141 países que votaram a favor da medida. Houve cinco votos contra, feitos por Belarus, Eritreia, Coreia do Norte, Rússia e Síria. E 35 países se abstiveram, entre eles China, Iraque, Índia e Cuba.

Ao introduzir o projeto de resolução, o embaixador da Ucrânia na ONU, Sergiy Kylytsya, disse que os “crimes cometidos pela Rússia” são bárbaros e difíceis de entender e pediu respeito à Carta das Nações Unidas.

Já o embaixador russo, Vasily Nebenzya, pediu que o projeto não fosse aprovado e que os países “votassem por seus interesses e não por pressão”. Em seu discurso, Nebenzya acusou a Ucrânia de utilizar pessoas como escudo humano e manter reféns em Kiev.

Nebenzya disse que não aprovação da resolução permitiria “libertar a Ucrânia do neonazismo” e que tem crescido o número de grupos com este ideal no país do Leste Europeu.

O secretário-geral da ONU, António Guterres, disse pronunciamento à imprensa após a votação, que continuará fazendo “tudo ao alcance” para que o conflito termine e que as negociações continuem.

“Povo da Ucrânia, nós sabemos que vocês precisam de paz, e povos do mundo todo exigem essa paz”, falou.

Prédios e estruturas após ataques russos em Kharkiv, na Ucrânia — Foto: Serviço de Emergência do Estado da Ucrânia/Agência Anadolu via Getty Images.

Ação internacional

Estados Unidos e países europeus anunciaram o envio de ajuda estrutural de armas e dinheiro para a Ucrânia. Belarus, país aliado da Rússia, se tornou um dos focos da comunidade internacional. O país teria atacado a Ucrânia e cedido a fronteira para que os russos invadissem.

Vários países também anunciaram sanções internacionais contra a Rússia, de forma geral, essas medidas visam isolar a Rússia do mercado global, impactando o acesso do país à tecnologia de ponta e outros recursos importantes.

“As sanções funcionam como grandes barreiras para reduzir o fluxo de comércio com os parceiros da Rússia. O objetivo econômico é fazer com que a Rússia perca espaço no ambiente internacional”, explica Juliana Inhasz, professora de economia do Insper.

Estados Unidos e União Europeia (UE) tentam enfraquecer a economia russa, através da interrupção de transações econômicas com bancos e empresas russas. Os EUA também entram com o corte da conexão do sistema financeiro do país com a maior instituição financeira da Rússia, o Sberbank, que inclui 25 subsidiárias.

As interrupções das transações com o Banco Central Russo têm efeito de bloquear os recursos do banco, que mantém fortes reservas no exterior. Dessa forma, ele não consegue mexer no dinheiro que tem fora da Rússia.

Protesto em São Paulo contra a invasão russa à Ucrânia — Foto: Carla Carniel/Reuters.

ONU divulga número de vítimas

A ONU disse ter confirmado 249 civis mortos e 553 feridos na Ucrânia durante a primeira semana da invasão russa.

Rússia e Ucrânia criarão rotas de fuga para civis

Após a reunião entre representantes russos e ucranianos realizada nesta quinta-feira (03), que terminou sem um acordo de cessar-fogo para o conflito, os países concordaram em criar rotas de fugas, chamadas de “corredores verdes” ou “corredores humanitários.

Esse foi o segundo encontro entre as delegações. A reunião ocorreu em Belarus.

O primeiro encontro foi realizado na última segunda-feira, 28 de fevereiro. A reunião não teve sucesso.

Um dos principais pontos da negociação é o estabelecimento de um armistício, que é a suspensão temporária das hostilidades entre as tropas.

As nações concordaram em fazer uma nova rodada de negociações, a data não foi definida. O único avanço foi a criação de rotas de fuga para refugiados da guerra. Se estima que um milhão de pessoas já deixaram a Ucrânia.

Antes desta última reunião, o presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, fez um apelo para a criação dessas rotas. Ele defende que qualquer negociação deve ocorrer após o fim dos bombardeios.

Zelensky disse que muitos civis estão morrendo ao tentar fugir do país. “Precisamos de um corredor verde para as pessoas saírem de Kharkiv. Carros usados por ucranianos em fuga foram alvejados”, comentou.

Mulher protesta contra a invasão russa à Ucrânia na frente da embaixada Russa em Washington (EUA) — Foto: Kevin Lamarque/Reuters.

Putin faz mais ameaças

Enquanto os representantes da Rússia e da Ucrânia estavam em negociação, Putin refez ameaças. “O pior da guerra ainda está por vir”, disse.

Nesta quinta-feira (03), em pronunciamento transmitido ao vivo do Kremlin, sede do governo russo, Putin chamou novamente os ucranianos de neonazistas e fez uma série de acusações.

“Os neonazistas usam civis como escudos e blindados em áreas residenciais”, iniciou. O líder russo completou. “Os nacionalistas não estão permitindo a retirada segura das pessoas”, disse, se referindo aos refugiados.

Putin ainda ordenou que as tropas intensifiquem os bombardeios. A destruição tem atingido centros habitados e causado várias mortes.

A operação especial ocorre como esperado”, diz Putin

Putin disse nesta quinta-feira (03) que sua “operação especial” no leste da Ucrânia “ocorre como o esperado”.

“Quero dizer que a operação militar especial está progredindo exatamente de acordo com o cronograma. De acordo com o plano. Todas as tarefas que foram previstas estão sendo resolvidas com sucesso”, disse ele, uma semana depois de a Rússia enviar tanques e tropas à Ucrânia pelo norte, pelo leste e pelo sul.

“Nosso exército e a população de Donbass estão sendo heróis”, disse Putin.

Putin não reconhece seus atos como uma invasão ou guerra. Além disso, o governo russo persegue veículos de imprensa que chamem a atual situação de guerra ou invasão.

O presidente russo ainda acusou os ucranianos de “amedrontarem a população” com uma propaganda nacionalista, que, segundo ele, é comparável com as da época nazista.

Essas e outras alegações foram feitas sem apresentação de evidências. Putin chegou a dizer que as forças ucranianas torturaram e mataram prisioneiros de guerra russos, e que estão mantendo cidadãos estrangeiros como reféns e usando escudos humanos.

Pessoas protestam pelo mundo contra a invasão russa à Ucrânia

Pessoas por todo o mundo estão se manifestando contra a invasão russa à Ucrânia. Na Rússia, mais de 6000 pessoas já foram detidas por se manifestarem contra a invasão.

“Fui detida ao sair de casa”, escreveu Marina Litvinovich, uma ativista de Moscou, no Telegram depois de chamar russos em uma postagem no Facebook na manhã de quinta-feira para protestar mais tarde naquela noite.

Manifestante em Roma exibe cartaz com a imagem de Vladimir Putin com um bigode de Adolf Hitler e uma suástica, símbolo nazista — Foto: Guglielmo Mangiapane/Reuters.