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Hugo Motta declara perda de mandato de Eduardo Bolsonaro e Alexandre Ramagem; entenda os efeitos políticos e jurídicos

O presidente da Câmara dos Deputados, Hugo Motta (Republicanos-PB), declarou nesta quinta-feira (18) a perda dos mandatos dos deputados federais Eduardo Bolsonaro (PL-SP) e Alexandre Ramagem (PL-RJ). A decisão foi tomada pela Mesa Diretora da Câmara e oficializada por meio de ato publicado no Diário Oficial da Casa.

Apesar de ambos terem perdido os cargos parlamentares no mesmo ato administrativo, os fundamentos legais, os efeitos políticos e as consequências eleitorais são distintos em cada caso, o que provoca impactos diferentes dentro do Partido Liberal (PL) e no equilíbrio das forças no Congresso Nacional.


Perda de mandato por faltas: o caso de Eduardo Bolsonaro

Eduardo Bolsonaro estava autoexilado nos Estados Unidos desde fevereiro, alegando perseguição política. Durante esse período, o deputado acumulou 59 faltas não justificadas a sessões deliberativas do plenário da Câmara dos Deputados.

A Constituição Federal estabelece que perde o mandato o parlamentar que deixar de comparecer a mais de um terço das sessões ordinárias, salvo nos casos de licença regularmente concedida ou missão oficial autorizada. Embora Eduardo tenha solicitado licença em parte do período, o prazo expirou, e as ausências passaram a ser contabilizadas.

Por se tratar de uma decisão de natureza administrativa, a perda do mandato não configura cassação no sentido político ou judicial. Com isso, não há suspensão dos direitos políticos, permitindo que Eduardo Bolsonaro permaneça elegível e possa disputar eleições futuras, desde que cumpra os requisitos legais.

Após a decisão, o deputado afirmou que “valeu a pena” permanecer fora do país e classificou a perda do mandato como um “sacrifício necessário”. Em declarações públicas, ele indicou que pretende seguir atuando politicamente e que novos desdobramentos ainda devem ocorrer.


Condenação criminal e inelegibilidade: o caso de Alexandre Ramagem

Situação diferente é a de Alexandre Ramagem, ex-diretor da Agência Brasileira de Inteligência (Abin). Ele teve o mandato declarado perdido após condenação criminal pelo Supremo Tribunal Federal no processo que investigou a tentativa de ruptura institucional após as eleições de 2022.

A Primeira Turma do STF condenou Ramagem a 16 anos, 1 mês e 15 dias de prisão, em regime inicial fechado, além de multa e perda do mandato parlamentar. A sentença transitou em julgado, o que impõe, automaticamente, a suspensão dos direitos políticos.

Nesses casos, a Constituição determina que o parlamentar condenado criminalmente perde o mandato e fica inelegível pelo período previsto na legislação, que pode alcançar até oito anos após o cumprimento da pena, conforme regras da Lei da Ficha Limpa.

Além da condenação, a Mesa Diretora considerou que Ramagem, que também se encontra fora do país, deixaria de comparecer a pelo menos um terço das sessões da legislatura seguinte, reforçando o fundamento formal do ato.


Divisão na Mesa Diretora e críticas do PL

A decisão foi tomada em meio a divergências internas na Mesa Diretora. Parte dos integrantes titulares não assinou o ato, sendo substituída por suplentes eleitos para garantir a maioria necessária à formalização da medida.

Parlamentares do Partido Liberal reagiram com críticas. O líder da legenda afirmou que a decisão representa um “grave precedente” e anunciou a intenção de recorrer ao plenário da Câmara, argumentando que a medida enfraquece a autonomia do Legislativo.

Aliados dos deputados também alegam que o procedimento adotado acelerou prazos e reduziu o espaço para debate político interno, enquanto governistas defendem que a Mesa apenas cumpriu o que determina a Constituição.


Impactos políticos e rearranjo das cadeiras

Com a perda do mandato de Eduardo Bolsonaro, a vaga passou a ser ocupada pelo suplente do PL em São Paulo, José Olímpio, que já aparece como deputado em exercício. Ele já havia assumido temporariamente a cadeira em outras ocasiões durante períodos de licença do titular.

No caso de Alexandre Ramagem, o substituto ainda não foi oficialmente definido. A convocação depende da declaração formal de vacância, da conferência da ordem de suplência do partido no Rio de Janeiro e da publicação do ato no Diário Oficial da Câmara.

Essa diferença se deve ao fato de que, no caso de Eduardo, a sucessão já estava previamente organizada em razão do afastamento prolongado, enquanto a cadeira de Ramagem só ficou vaga após a condenação judicial.


Consequências eleitorais e cenário para 2026

A distinção jurídica entre os casos tem reflexos diretos no cenário eleitoral. Eduardo Bolsonaro mantém seus direitos políticos e, em tese, pode concorrer a cargos eletivos nas próximas eleições. Já Alexandre Ramagem está impedido de disputar eleições, em razão da condenação criminal e da suspensão de seus direitos políticos.

Especialistas avaliam que a perda simultânea de dois mandatos do PL pode alterar a dinâmica da oposição no Congresso, especialmente em votações estratégicas, além de influenciar a organização interna do partido para o ciclo eleitoral de 2026.


Diferença central entre perda de mandato e cassação

Embora os dois deputados tenham perdido os cargos, os casos ilustram bem a diferença entre perda de mandato administrativa e cassação decorrente de condenação judicial. No primeiro, não há punição política além da perda do cargo; no segundo, há efeitos duradouros sobre a vida política do parlamentar.

A decisão da Mesa Diretora, portanto, não apenas encerra os mandatos de Eduardo Bolsonaro e Alexandre Ramagem, mas também evidencia os limites e alcances dos mecanismos constitucionais de responsabilização de parlamentares.