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José Antonio Kast vence eleição e se torna presidente chileno mais à direita desde Pinochet

José Antonio Kast, de 59 anos, foi eleito presidente do Chile ontem (14) 14 de dezembro de 2025, vencendo o segundo turno com 58% dos votos contra a candidata comunista Jeannette Jara. A vitória marca a guinada mais à direita do país desde o fim da ditadura de Augusto Pinochet, em 1990, tornando Kast o presidente mais conservador eleito no Chile desde aquele período. A eleição também reflete uma mudança no humor do eleitorado, que agora prioriza segurança pública, controle da imigração e estabilidade econômica, em contraste com a rejeição à gestão de Gabriel Boric durante a pandemia e os protestos por desigualdade social.


Perfil de José Antonio Kast

José Antonio Kast nasceu em Paine, na região metropolitana de Santiago, como caçula de dez filhos de um casal alemão que emigrou para o Chile após a Segunda Guerra Mundial. Seu pai, Michael Kast, serviu no exército alemão ainda jovem e, posteriormente, migrou para a América do Sul, onde construiu um negócio de sucesso no setor alimentício. Investigação posterior indicou que Michael Kast foi membro do Partido Nazista aos 18 anos, embora José Antonio tenha declarado que a família estava “distante do nazismo”.

Kast é católico, pai de nove filhos, casado com a advogada María Pía Adriasola e próximo ao movimento católico conservador de Schoenstatt. Seu irmão mais velho, Miguel Kast, foi ministro e presidente do Banco Central durante a ditadura de Pinochet e integrou os “Chicago Boys”, grupo responsável por implementar reformas econômicas de choque liberal no Chile.

Durante a juventude, Kast fez campanha pelo “sim” no plebiscito de 1988 que buscava manter Pinochet no poder, e anos depois iniciou uma carreira política como deputado pela União Democrata Independente, permanecendo mais de uma década na Câmara antes de fundar o Partido Republicano e se lançar como outsider conservador. Diferente de líderes performáticos como Javier Milei ou Nayib Bukele, Kast é considerado mais reservado, institucional e experiente, o que o tornou uma figura conhecida em um momento de rejeição ao governo Boric e de esvaziamento do centro político.


Posições e agenda de governo

Segurança e imigração

Kast construiu sua campanha explorando a percepção de insegurança, mesmo com o Chile sendo um dos países mais seguros da América Latina. Ele atribuiu ao governo anterior a responsabilidade pelo “caos” e prometeu restaurar ordem e confiança. Entre suas propostas estão:

  • Construção de barreiras físicas e muros na fronteira;
  • Aumento da presença militar no norte do país;
  • Criação de uma força policial especializada nos moldes do ICE americano para localizar e deportar imigrantes sem documentos, majoritariamente venezuelanos;
  • Ultimato para cerca de 330 mil estrangeiros em situação irregular deixarem o país antes da posse, sob risco de expulsão imediata.

Economia

Kast defende um receituário liberal clássico:

  • Flexibilização das leis trabalhistas;
  • Corte de impostos sobre empresas;
  • Redução de regulações e ajustes fiscais agressivos;
  • Promessa de cortar US$ 6 bilhões em gastos públicos em até 18 meses, ainda sem detalhar como isso será feito.

Segundo análises do Bradesco BBI, sua vitória poderia gerar valorização da bolsa chilena em dólares de até 21% no cenário base e mais de 50% em cenário otimista, enquanto no cenário pessimista poderia haver queda de até 20% caso as reformas não sejam implementadas.

Costumes e direitos civis

Kast é conservador nos costumes, opositor histórico do aborto e do casamento entre pessoas do mesmo sexo. Durante a campanha, anunciou intenção de reverter legislação vigente sobre aborto em casos específicos e banir a pílula do dia seguinte, embora tais propostas tenham sido menos enfatizadas devido ao apoio popular à manutenção das regras atuais.


Contexto eleitoral

Kast já havia concorrido à presidência duas vezes: em 2017, ficou em quarto lugar com 8% dos votos, e em 2021, venceu o primeiro turno, mas perdeu o segundo para Gabriel Boric (44% x 56%). Em 2025, a conjuntura eleitoral mudou: preocupações com segurança pública, imigração irregular e frustração com governos de esquerda criaram terreno favorável à direita. O apoio de eleitores de candidatos derrotados no primeiro turno, como o libertário Johannes Kaiser e a conservadora Evelyn Matthei, permitiu que Kast conquistasse a vitória expressiva no segundo turno.


Reações internacionais

A eleição de Kast foi recebida com congratulações de diversos países das Américas, destacando a intenção de cooperação em segurança, comércio e integração regional:

  • Estados Unidos: O Departamento de Estado, chefiado por Marco Rubio, destacou a expectativa de colaboração em segurança pública, imigração e prosperidade hemisférica, afirmando que espera aprofundar a parceria com o governo chileno.
  • Argentina: Presidente Javier Milei celebrou a vitória como “mais um passo em defesa da vida, da liberdade e da propriedade privada”, prometendo trabalhar junto com Kast para fortalecer ideias de liberdade e combater o “socialismo do século 21”. O Ministério das Relações Exteriores argentino reforçou interesse em diálogo sobre combate ao narcotráfico.
  • Brasil: Presidente Lula enfatizou os “sólidos laços econômico-comerciais” e as “excelentes relações bilaterais”, destacando o desejo de fortalecer a integração regional e manter a América do Sul como zona de paz.
  • Peru: Presidente interino José Jerí conversou com Kast, alinhando o combate ao crime transnacional como ponto de convergência.
  • Uruguai: Kast deve dialogar com Yamandú Orsi para tratar de cooperação bilateral.
  • México, Paraguai, Equador, Bolívia, Panamá, Costa Rica e Guatemala: Diversos governos emitiram declarações reafirmando disposição em fortalecer laços históricos, cooperação, amizade e diálogo com o novo governo chileno, enfatizando prosperidade e estabilidade na região.

Referência histórica

Kast é o primeiro presidente chileno eleito desde Pinochet com perfil tão conservador e linha dura. Sua vitória reacende discussões sobre o legado do regime militar, especialmente para vítimas de violações de direitos humanos, embora ele defenda que o Chile vivenciou uma transição para a democracia após o fim da ditadura e valorize “avanços e desenvolvimentos” daquele período.