A presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, afirmou nesta sexta-feira (19) que há apoio suficiente entre os países da União Europeia para a aprovação do acordo comercial entre o bloco e o Mercosul, apesar do adiamento da assinatura do tratado para janeiro de 2026.
A conclusão do acordo, que estava prevista para este sábado (20), foi adiada após resistência de alguns Estados-membros, especialmente em razão de pressões do setor agrícola europeu.
Assinatura adiada para janeiro
Segundo von der Leyen, a Comissão Europeia decidiu, em comum acordo com os países do Mercosul, postergar a assinatura do tratado, com o objetivo de construir maior consenso interno no bloco europeu.
A presidente afirmou estar confiante de que uma maioria qualificada será alcançada, requisito necessário para a ratificação formal do acordo no Conselho Europeu.
Resistência liderada pela França
A França segue como principal foco de oposição ao acordo. O presidente Emmanuel Macron declarou que o país não apoiará o tratado sem a inclusão de novas salvaguardas para proteger agricultores franceses, que veem o pacto como uma ameaça diante da concorrência com produtos sul-americanos.
O governo francês afirma que as regras ambientais e sanitárias aplicadas aos produtores europeus não são equivalentes às exigidas nos países do Mercosul.
Alemanha e Espanha defendem avanço
Na contramão da resistência francesa, Alemanha, Espanha e países nórdicos defendem a aprovação do acordo, avaliando que o tratado pode fortalecer a posição da União Europeia no comércio global.
Esses países consideram que o pacto ajuda a reduzir a dependência econômica da China, amplia o acesso a matérias-primas estratégicas e compensa impactos de tarifas impostas por outros mercados.
Itália mantém posição indefinida
A Itália adotou uma postura intermediária. A primeira-ministra Giorgia Meloni afirmou que o país pode apoiar o acordo, desde que as preocupações do setor agrícola italiano sejam atendidas.
Segundo Meloni, ajustes técnicos e garantias adicionais podem viabilizar o apoio italiano ao tratado em curto prazo.
Brasil mantém otimismo
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou que o Brasil segue otimista com a aprovação do acordo. Segundo ele, há disposição política na Europa para superar resistências internas, especialmente com diálogo junto aos países mais críticos.
Para o governo brasileiro, o acordo representa uma oportunidade estratégica de ampliação de mercados, atração de investimentos e fortalecimento das exportações.
Protestos de agricultores em Bruxelas
Enquanto líderes europeus discutiam o futuro do acordo, milhares de agricultores protestaram em Bruxelas, criticando políticas agrícolas da União Europeia e o avanço do tratado com o Mercosul.
As manifestações reuniram tratores, bloqueios de vias e confrontos pontuais com a polícia, evidenciando a pressão interna enfrentada por governos europeus.
Como funciona a aprovação
A ratificação do acordo depende de maioria qualificada no Conselho Europeu, o que exige o apoio de pelo menos 15 dos 27 países do bloco, representando 65% da população da União Europeia.
Esse é considerado o principal obstáculo político para a conclusão do tratado, que vem sendo negociado há mais de duas décadas.
O que está em jogo
Apesar do foco no agronegócio, o acordo entre Mercosul e União Europeia vai além do comércio agrícola, abrangendo setores como:
- Indústria
- Serviços
- Investimentos
- Propriedade intelectual
- Cadeias produtivas estratégicas
A expectativa agora é que as negociações avancem nas próximas semanas para viabilizar a assinatura do acordo no início de 2026.




