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Papamóvel de Francisco é convertido em clínica infantil para atender crianças de Gaza

Veículo utilizado pelo papa durante visita à Terra Santa em 2014 foi reformado, equipado e renomeado como “Veículo da Esperança”. Unidade móvel aguarda autorização de Israel para entrar na Faixa de Gaza.

O papamóvel usado pelo papa Francisco durante sua visita à Terra Santa em 2014 foi transformado em uma clínica móvel destinada ao atendimento de crianças na Faixa de Gaza. A iniciativa cumpre um desejo do pontífice, que morreu em abril deste ano, aos 88 anos, e havia expressado o pedido de que o veículo fosse colocado a serviço da população infantil do território palestino.

A apresentação oficial ocorreu nesta terça-feira (25), em Belém, na Cisjordânia, durante uma cerimônia conduzida pelo cardeal Anders Arborelius, bispo de Estocolmo. O veículo, agora chamado “Veículo da Esperança”, recebeu bênção e foi simbolicamente enviado para sua nova missão.

“Queremos que cada criança alcançada por esta unidade se sinta vista, ouvida e protegida. Os direitos e o bem-estar da criança vêm em primeiro lugar”, afirmou o cardeal durante o evento.


Veículo mantém identidade visual, mas agora é uma clínica equipada

Embora continue facilmente reconhecível como papamóvel — branco por dentro e por fora, com a cobertura superior elevada —, o veículo passou por uma completa adaptação. Agora possui equipamentos para:

  • consultas pediátricas,
  • diagnósticos e testes de infecção,
  • aplicação de vacinas,
  • suturas e primeiros socorros.

A expectativa é de que a clínica móvel consiga realizar até 200 atendimentos por dia, oferecendo suporte emergencial às crianças de Gaza, onde o sistema de saúde foi severamente afetado após dois anos de conflito entre Israel e Hamas.


Acesso a Gaza ainda depende de autorização israelense

Apesar de estar pronta, a unidade móvel ainda não tem data para entrar em Gaza, pois depende de autorização do governo israelense. A região vive um cessar-fogo desde 10 de outubro, mas, mesmo assim, a entrada de veículos humanitários segue altamente controlada.

De acordo com a Caritas, responsável pela transformação e operação da unidade, esforços diplomáticos já estão em andamento.

“Estamos trabalhando pelos canais oficiais para que o veículo seja liberado o mais rápido possível”, declarou Alistair Dutton, secretário-geral da organização.


O último desejo de Francisco

O papamóvel foi um presente do presidente da Autoridade Palestina, Mahmud Abbas, entregue ao papa durante sua visita a Belém em 2014. Depois, o veículo passou aos cuidados dos frades franciscanos.

A transformação em clínica móvel custou aproximadamente US$ 15 mil (cerca de R$ 619 mil) e foi realizada por mecânicos palestinos, que reforçaram a estrutura e adaptaram o interior às necessidades médicas. As laterais abertas foram fechadas com painéis para garantir segurança e privacidade.

Peter Brune, secretário-geral da Caritas Suécia, reforçou o simbolismo da iniciativa:

“As crianças de Gaza estavam muito próximas do coração do papa Francisco. Agora, elas se sentarão no assento que ele ocupava — e serão tratadas como as pessoas mais valiosas da Terra.”


Conflito continua afetando crianças

Apesar da trégua, a violência ainda atinge civis. A Unicef informou que ao menos 67 crianças morreram em incidentes relacionados ao conflito desde o início do cessar-fogo, em outubro. Israel afirma que suas tropas têm como alvo grupos armados considerados ameaça às forças que ocupam parte do território.

Francisco sempre dedicou atenção ao tema e classificou a situação humanitária em Gaza como “vergonhosa”. Também pediu a libertação de reféns, condenou ataques do Hamas e manteve contato diário com membros da comunidade cristã local durante o período mais intenso da guerra.

Em julho, a única igreja católica de Gaza — onde civis buscavam abrigo — foi atingida em um ataque que deixou mortos e feridos, fato que sensibilizou ainda mais o pontífice.

“Sabemos o quanto o papa Francisco amava o povo da Terra Santa, o povo de Belém e, especialmente, o povo de Gaza”, afirmou o padre Faltas, representante dos frades franciscanos nos territórios palestinos.