Na última eleição municipal de 2020, a representatividade feminina nas câmaras municipais do Alto Tietê continuou sendo um desafio. Embora as mulheres representem 52,5% do eleitorado da região, elas são uma minoria entre os eleitos. Foram apenas 17 mulheres eleitas em comparação a 143 homens, segundo dados do Tribunal Superior Eleitoral (TSE).
Representatividade Feminina em Números
O levantamento mostra que, desde as eleições de 1996, Mogi das Cruzes elegeu apenas 12 mulheres vereadoras, enquanto 70 homens ocuparam as cadeiras na Câmara Municipal. Em Suzano, o cenário é ainda mais desolador: apenas seis mulheres foram eleitas, enquanto 71 homens conquistaram os cargos de vereador.
Em 2020, as mulheres eleitas na região foram distribuídas da seguinte forma: três em Salesópolis e Mogi das Cruzes; duas em Santa Isabel, Biritiba Mirim, Guararema e Poá; e uma em Arujá, Itaquaquecetuba e Suzano. A cidade de Ferraz de Vasconcelos foi a única que não elegeu nenhuma mulher.
Desafios Institucionais e Sociais
Hannah Maruci, doutora em Ciência Política pela Universidade de São Paulo (USP) e co-fundadora do projeto “A Tenda das Candidatas”, destaca que a baixa representatividade feminina na política é um reflexo de problemas sociais e institucionais. Segundo ela, uma democracia justa deve refletir a diversidade da sua população nos seus representantes, o que claramente não ocorre no Alto Tietê.
“Além da falta de representatividade, a ausência de mulheres no poder cria uma barreira psicológica, fazendo com que outras mulheres não vejam a política como um espaço onde possam estar”, comenta Maruci. “A multiplicidade de perspectivas é essencial para a formulação de leis justas que atendam a toda a sociedade, e isso só é possível com uma representatividade real.”
A Luta pela Cota de Gênero
Desde 1997, a Lei Eleitoral brasileira impõe cotas de gênero, exigindo que pelo menos 30% dos candidatos sejam de um sexo específico, normalmente focando na inclusão feminina. Contudo, a aplicação efetiva dessa lei ainda enfrenta desafios. Muitas vezes, os partidos políticos cumprem a cota apenas formalmente, sem oferecer suporte financeiro ou estrutural às candidatas.
Em maio de 2024, o TSE reforçou a fiscalização contra fraudes relacionadas às cotas de gênero, o que Hannah Maruci vê como um passo positivo, mas insuficiente se não houver uma mudança na cultura política. “As mulheres, especialmente negras, ainda enfrentam subfinanciamento e são prejudicadas pela demora na liberação de recursos para suas campanhas”, acrescenta.
Reflexões Finais
A sub-representatividade das mulheres nas câmaras municipais do Alto Tietê é um reflexo de uma questão nacional mais ampla. Apesar dos avanços, como a implementação das cotas de gênero, ainda há muito a ser feito para que as mulheres possam ocupar espaços de poder em igualdade de condições com os homens. As eleições de outubro deste ano serão mais uma oportunidade para avaliar se o cenário começa a mudar ou se as mulheres continuarão sendo minoria nas câmaras municipais da região.