Andando pela cidade e conversando com muitas pessoas, sejam famílias ou funcionários públicos da educação, constatei uma imensa e crescente insatisfação com o que se tornou a Escola Pública de Poá. Não há pessoas que consigam observar alguma mudança de melhoria e os relatos são tristes.
Diante desse cenário, busquei especialistas da Educação, Mestres e Doutores, que compreendem o funcionamento e as metas da Educação, para dialogarmos com profundidade sobre essas questões. Dessas conversas, pesquisas e escuta, elencamos três grandes desafios que a cidade de Poá vivencia em razão do abandono e descaso no atual cenário.
- A Falta de Prioridade na Educação
A cidade de Poá, em geral, e a Secretaria da Educação, em específico, vivem um momento muito delicado. Os relatos são das escolas abandonadas, sem ação das lideranças para a manutenção mínima dos prédios e, assim, ofertar condições essenciais de dignidade para as crianças e a segurança que todas as famílias desejam. As falas são que a pasta da Educação vive um momento sem rumo, sem projeto, sem liderança técnica que aponte como melhorar o Ensino para nossas crianças.
- O descaso com funcionalismo – Professores e Gestores.
A falta de um olhar comprometido com a Educação afeta diretamente os trabalhadores que diariamente dedicam suas vidas para garantir o funcionamento das escolas e a aprendizagem das crianças. Com a justificativa de falta de recursos, a Secretaria da Educação ofereceu o menor reajuste de toda macrorregião do Alto Tietê, os docentes além de não terem as condições mínimas para trabalhar, estão submetidos ao achatamento salarial e são obrigados a acumularem cargos em outras redes de ensino e escolas particulares. A Educação de Poá, que já foi vista como a melhor da região, atualmente perde seus melhores profissionais para os municípios vizinhos, pois não valoriza e nem reconhece o trabalho de seus servidores.
- A aprendizagem das crianças e dos adolescentes.
O terceiro desafio é o que se configura ainda mais grave, pois implica diretamente no futuro das crianças e dos adolescentes: apesar de todo esforço que os docentes e gestores mantém para que os estudantes aprendam, a rede de ensino sem projeto não garante que os indicadores de aprendizagem, as metas mínimas estabelecidas pelo MEC e por todas as Instituições que avaliam a Educação no Brasil, sejam alcançadas. De acordo com os indicadores das plataformas de pesquisas que mensuram o funcionamento das escolas em todo país, a cidade de Poá possui apenas 32% das escolas com acessibilidade, ou seja, as escolas do município não estão realizando a lição mínima de atender as pessoas com deficiência e com restrição de deslocamento e acesso.
Ainda sobre a falta de projeto, cuidado e investimento, apenas 16% das escolas de Poá desfrutam de bibliotecas, que todos sabemos que é o mínimo que se espera para que a aprendizagem das crianças seja garantida e para que os professores possam realizar ainda melhor seu trabalho. Laboratório de Informática, apenas 14% das escolas possuem e Laboratório de Ciências, apenas 2% das escolas. Como podemos imaginar que as crianças do município possam aprender? Como os professores trabalham sem condições mínimas para o exercício do ofício?
Continuarei dialogando com as famílias, com os funcionários e com os principais especialistas de Educação para entender e apresentar para a população a situação da cidade e continuarei cobrando os agentes públicos que ocupam a cidade.
A saída é pelo diálogo político e pela decisão e conhecimento técnicos.
Flávia Verdugo – Mestre em Ciências da Saúde / Faculdade de Medicina da USP
Pesquisadora e Assistente Social Formada pela PUC-SP
Psicanalista
Diego Moreira Doutor e Mestre em Educação: História, Política e Sociedade pela PUCSP. É docente no Programa de Pós Graduação em Educação, orientando no mestrado na linha Formação de Professores, cultura e subjetividades.
Marcos Verdugo
Professor, pesquisador e gestor cultural. Estudou Audiovisual (ECA-USP), Filosofia (FFLCH-USP) e Licenciado (FE – USP). Mestre em Ciência da Religião (PUC-SP). Doutor em Filosofia Contemporânea (PUC-SP).