DF terá prioridade na vacina contra dengue após aumento de 920% nos casos

A primeira remessa da vacina contra a dengue chegará em fevereiro, e a capital do país, devido ao elevado índice de incidência, terá prioridade no recebimento. A data de início da imunização e a quantidade de doses destinadas ao Distrito Federal ainda não foram divulgadas. A solicitação de prioridade para o DF partiu da vice-governadora Celina Leão (PP), sendo acatada pelo Ministério da Saúde em razão do expressivo aumento de 920% nos casos prováveis de dengue no início do ano, comparado ao mesmo período do ano anterior.

Em entrevista coletiva, autoridades destacaram a importância do engajamento da sociedade no combate à dengue – (crédito: Sandro Araújo / Agência Saúde)

A imunização inicial visa prioritariamente crianças de 10 a 14 anos, faixa etária mais suscetível a hospitalizações por dengue. O Distrito Federal registrou seis mortes confirmadas por dengue em 2024. Dessas, cinco ocorreram em indivíduos do sexo masculino e uma do sexo feminino. As vítimas incluem uma criança entre 5 e 9 anos, duas entre 70 e 79 anos e as demais entre 20 e 49 anos. Além desses óbitos confirmados, há 24 casos em investigação, incluindo o de um bebê, que podem estar relacionados à doença.

De acordo com o boletim mais recente, Brazlândia apresenta a maior incidência de casos prováveis, com 2.588,08 casos por 100 mil habitantes, seguida por Ceilândia (1.983,66 casos por 100 mil habitantes), Sol Nascente/Pôr do Sol (1.855,82 casos por 100 mil habitantes) e Estrutural (1.525,09 casos por 100 mil habitantes).

Ontem, o secretário da Casa Civil do Distrito Federal, Gustavo Rocha, anunciou que um Hospital de Campanha da Aeronáutica será implantado no DF para atender pacientes com dengue. A escolha de Ceilândia como localização se deve à elevada incidência de casos na região. Gustavo Rocha ressaltou o êxito das tendas já instaladas, com uma demanda significativa de 1,5 mil atendimentos diários, justificando assim a expansão da assistência. “As tendas que instalamos se mostraram muito corretas. Estão tendo uma procura muito efetiva, com 1,5 mil atendimentos por dia. Em razão disso, vamos ampliar ainda mais a assistência”.

“Foi uma tratativa entre GDF, o Ministério da Defesa e o Comando da Aeronáutica, se juntando ao Exército que já está conosco indo de porta a porta procurando focos de dengue”, acrescentou a secretária de Saúde, Lucilene Florêncio.

Atualmente, 40% dos casos estão concentrados em Ceilândia, Pôr do Sol e Sol Nascente. Um módulo único será destinado a 60 leitos, com operação ininterrupta. A localização e a data de funcionamento do hospital estão em fase de estudo pelo GDF e pela Aeronáutica.

No mesmo anúncio, foi divulgada a colaboração com instituições de ensino superior, onde alunos atuarão como voluntários, além da contratação de 10 novos veículos aplicadores de inseticida, conhecidos como fumacê.

O secretário da Casa Civil apelou à população para uma maior conscientização no descarte adequado de lixo e entulho. “Vivemos em um momento que precisamos do apoio e da contribuição de todos, especialmente em relação ao descarte. Desde o início do ano, recolhemos mais de 44 mil toneladas de entulho descartável em lugares indevidos”, salientou.

Celina Leão destacou que é preciso pensar na saúde pública de forma geral. “Hoje, temos superlotação de UTIs em toda a rede. Cada um precisa ajudar como puder, seja cuidando das suas casas, procurando os focos de dengue, evitando o descarte irregular de lixo”, ressaltou. Ela enfatizou que a população precisa estar consciente em relação ao descarte de lixo nas vias públicas. “A dengue deixa claro outros problemas que a nossa sociedade tem e que a gente precisa repensar. Vivemos de forma coletiva e cada um tem um papel. O Estado vai e retira o lixo, a pessoa vai e coloca o lixo de novo, despejando na rua”, comentou. “O maior pedido que nós temos na ouvidoria hoje é de carro fumacê e de retirada de lixo”, disse.

Conforme mencionado pelo governador Ibaneis Rocha (MDB), o GDF está em processo de negociação com os administradores regionais para realizar uma operação de limpeza em todas as regiões. “Queremos diminuir os focos de dengue na nossa cidade. A parceria com o Exército e com o Corpo de Bombeiros também é efetiva. As tendas também estão ajudando a fazer um atendimento mais rápido, evitando as mortes que é o nosso principal objetivo”, ressaltou. “Esperamos, com a aprovação desse projeto, aumentar a contratação do pessoal da vigilância sanitária”, acrescentou, referindo-se à proposta de alteração na Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO-2024), que busca autorizar a nomeação de 150 agentes de vigilância ambiental em saúde para reforçar as equipes de combate à dengue. Este projeto foi encaminhado à Câmara Legislativa do Distrito Federal (CLDF) nesta semana e será analisado em regime de urgência pela Casa.

Um bebê recém-nascido, Théo Luca de Jesus Castro, foi diagnosticado com dengue e precisou ser transferido para a Unidade de Cuidados Intermediários Neonatais (UCIN) do Hospital Regional do Paranoá (HRPa). Théo nasceu em 18 de janeiro e contraiu dengue com apenas cinco dias de vida, conforme relatado por seu pai, Nelson Dorin, de 36 anos, que alega que a infecção ocorreu ainda no hospital. Após o parto, Théo permaneceu sob os cuidados da instituição até o dia 21 e agora está em processo de recuperação na maternidade do HRPa.

“Ficamos muito assustados, pois ele estava bastante debilitado e desidratado, tanto que precisou de soro, sonda e oxigênio. As plaquetas dele, inclusive, ficaram bem reduzidas; até avaliaram a possibilidade de transfusão, mas não foi necessário”, detalhou Nelson, que é motorista.

Conforme afirmado pelo secretário Gustavo Rocha, ainda não há confirmação de que Théo contraiu dengue no hospital.  “O bebê nasceu em 18 janeiro, teve alta dia 21 e retornou dia 23, ficou na UTI até o dia 31 e agora não está mais na UTI. Todas as análises estão sendo feitas, a princípio não há como afirmar se ela contraiu dengue no hospital ou na residência. Mas ele já saiu da UTI e está sendo tratado”, declarou.