Na madrugada de 10 de dezembro de 2025, durante a votação do PL da Dosimetria na Câmara dos Deputados, o presidente da Casa, Hugo Motta (Republicanos-PB), acusou o PT de “incoerência histórica” ao evocar Ulysses Guimarães em críticas ao processo. A declaração de Motta foi uma resposta direta ao discurso do líder petista na Casa, Lindbergh Farias (RJ)
Embate em plenário e origem da crítica
A reação de Hugo Motta veio após pronunciamento do líder do PT na Câmara, Lindbergh Farias (RJ), que contestou a decisão de levar o projeto à votação. O deputado argumentou que a proposta poderia resultar na redução de penas de envolvidos nos atos de 8 de Janeiro, incluindo militares de alta patente e o ex-presidente Jair Bolsonaro.
No discurso, Lindbergh mencionou falas anteriores de Motta em defesa da democracia e citou referências feitas por ele a Ulysses Guimarães e à memória da ditadura militar, apontando contradição entre o discurso simbólico e a pauta colocada em votação. Para o petista, a condução do processo representaria um distanciamento do legado democrático que Ulysses simboliza.
Em resposta, Hugo Motta afirmou que considera contraditório o PT invocar Ulysses Guimarães, personagem central da Constituinte de 1988, já que o partido votou contra o texto final da Constituição. Segundo o presidente da Câmara, embora integrantes do PT tenham participado dos debates constituintes, a legenda se posicionou contra diversos dispositivos e não participou da cerimônia de promulgação.
Constituição de 1988 como símbolo político
Hugo Motta destacou que Ulysses Guimarães representa a consolidação da Constituição de 1988 e da transição democrática, defendendo que o uso do legado do ex-presidente da Câmara exige coerência histórica. O parlamentar afirmou que ouvir críticas baseadas na figura de Ulysses, vindas de um partido que rejeitou o texto constitucional à época, distorce o sentido histórico da trajetória do político.
A fala gerou reação no plenário. A deputada Benedita da Silva (PT-RJ) tentou intervir para afirmar que o partido assinou a Constituição, mas foi interrompida por Motta, que reforçou que sua crítica se referia especificamente ao voto contrário do PT ao texto final. A interrupção provocou protestos de parlamentares da oposição.
Disputa pelo legado democrático
O episódio reacendeu o debate sobre a memória política da redemocratização e o uso simbólico da Constituição de 1988 nas disputas atuais. Ulysses Guimarães segue sendo uma referência central nesse contexto, frequentemente citado por diferentes correntes políticas como símbolo da defesa da democracia e das liberdades institucionais.
A troca de acusações evidencia como fatos históricos continuam sendo mobilizados no embate político contemporâneo, especialmente em votações sensíveis no Congresso. Mais do que um debate sobre o passado, a discussão expõe divergências profundas sobre o significado e a aplicação do legado constitucional no cenário político atual.




